Qual a importância de testar sua reserva ovariana?

A importância de testar sua reserva ovariana

É comum que a mulher pergunte ao seu ginecologista: “Doutor, gostaria de saber se posso engravidar.”  Esse questionamento acontece mesmo que ela ainda não tenha tentado engravidar.  O receio de que “não posso ser mãe” é compreensível e natural.

Normalmente, não há necessidade de realizar investigações em casais que ainda não iniciaram a tentativa de gravidez ou que estão tentando a menos de 1 ano, salvo algumas exceções.

Mesmo assim, devido a vasta troca de informações que ocorre na internet, percebo que tem sido comum ver mulheres, às vezes jovens e preocupadas com o seu potencial de gestação e querendo saber: qual é a minha reserva ovariana?

Para ajudar a interpretar esses resultados decidi elaborar esse texto sobre os principais marcadores de reserva ovariana (hormônio anti-mulleriano e contagem de folículos antrais dos ovários) e sua relação com a idade da mulher.

Apenas relembrando. …

A mulher já nasce com seu “estoque” de óvulos definido. Ou seja, não são formados mais óvulos ao longo da vida. E por causa disso, tudo o que ocorrer ao longo da infância, adolescência e vida adulta pode influenciar na quantidade ou qualidade desses óvulos: cirurgias, substâncias químicas oriundas do ambiente, radiações, medicamentos, etc.

Os principais marcadores para estimativa da reserva ovariana são:

  • Hormônio anti-mulleriano: substância medida no sangue, em qualquer fase do ciclo menstrual da mulher.
  • Contagem de folículos ovarianos antrais: é a soma da contagem dos folículos (de 2 a 10 mm de tamanho) de ambos ovários pelo ultrassom transvaginal. Também pode ser feita em qualquer fase do ciclo menstrual da mulher.

Os dois parâmetros são importantes nessa estimativa da reserva ovariana, e apresentam boa correlação entre si e com a quantidade de folículos (óvulos) remanescentes da mulher tanto para gestação natural como pela FIV. Lembrar que a qualidade dos óvulos está relacionada à idade da mulher, o que aumenta o risco de aneuploidia dos embriões (anormalidade no número de cromossomos).

O que realmente pode ser dito em relação aos resultados dessas análises?

O que dizer para uma mulher com baixa reserva ovariana?

Isso apenas quer dizer que ela tem uma quantidade de óvulos mais baixa.

Não significa necessariamente que ela vai entrar na menopausa mais cedo, porque a velocidade de “gastar” os óvulos é variável de pessoa a pessoa, e não é previsível. Por exemplo: imagine que você tem uma reserva de dinheiro guardada no banco e precisa retirar mensalmente um pouco dessa reserva. Quanto tempo ela vai durar? Depende, não é? De quanto você tinha inicialmente e de quanto é a retirada mensal. Pois bem, essa analogia se aplica nesse caso. Ter baixa reserva ovariana não significa obrigatoriamente que ela vai acabar rápido, pois depende da velocidade do recrutamento folicular e essa estimativa não é possível de ser feita. O mecanismo natural do recrutamento folicular ainda não é completamente conhecido pela Medicina, e por isso não é ainda previsível.

Ou seja, talvez seja coerente que alguém com baixa reserva ovariana não demore demais para tentar engravidar. E, caso não tenha planos de gravidez para o médio/ longo prazo, que considere nos seus planos de vida a vitrificação de óvulos (congelamento) como uma opção para ter mais tranquilidade nesse assunto. Tudo isso tem que ser considerado levando em conta a idade da paciente no momento do exame. Já é do conhecimento que a qualidade dos óvulos piora com a idade, especialmente dos 35 anos em diante. Então, poucos óvulos somados com a perda de qualidade gerada pela idade, pode ser uma situação delicada para algumas mulheres. Cuidado com essa associação!

A chance de gestação natural é reduzida na mulher com baixa reserva ovariana?

Não necessariamente. Essa chance vai depender de vários fatores e principalmente da integridade dos óvulos, a qual está relacionada à idade da mulher. Ou seja, mulheres jovens com baixa reserva ovariana tem menos óvulos, mas a sua qualidade está preservada pois essa é uma característica relacionada à idade.

A chance de gravidez por FIV é menor na mulher com baixa reserva ovariana?

Sim, pode ser. Sabemos que o sucesso dos tratamentos de FIV depende diretamente da quantidade de óvulos recuperados. E, dependendo da idade da mulher e da existência de alteração seminal grave no marido, mais óvulos são necessários para que se consiga um blastocisto euploide (embrião com número de cromossomos normal), o qual tem mais chance de gravidez e de um bebê saudável nascido vivo.

Toda mulher com baixa reserva ovariana tem indicação de fazer FIV?

Não. Nem todo casal que a mulher tem baixa reserva ovariana vai ter dificuldades para engravidar. Como já foi dito acima, baixa reserva ovariana não necessariamente significa em menor chance de gestação natural. A indicação de FIV vai depender da presença de infertilidade e sua causa – se é tratável por FIV ou outra técnica. A baixa reserva ovariana tem que ser considerada também como uma variável que pode influenciar no tipo de protocolo a ser definido e no resultado do tratamento.

Testar a reserva ovariana em todas as mulheres não parece uma necessidade obrigatória. A maioria das mulheres vai engravidar espontaneamente, de forma natural. Ou seja, exames em demasia levantam preocupações desnecessárias às vezes. Parece mais indicado investigar a reserva ovariana nos casais com infertilidade e nas pacientes que desejam vitrificar óvulos (congelar) para uso futuro como estratégia de prolongar sua vida reprodutiva.

Por Dr. Marcelo Giacobbe

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